Instituto Pensar - Milton Ribeiro nomeia defensora de ‘princípios bíblicos’ na educação para o MEC

Milton Ribeiro nomeia defensora de ‘princípios bíblicos’ na educação para o MEC

por: Nathalia Bignon 


Na última sexta-feira (21), o ministro da Educação, o pastor Milton Ribeiro nomeou uma religiosa, defensora da adoção de princípios bíblicos no ensino, com críticas a conteúdos de livros didáticos e à Base Nacional Comum Curricular, como sua nova assessora especial. Segundo uma reportagem divulgada nesta terça pelo jornal Folha de S.Paulo, no cargo, Inez Augusto Borges receberá um salário é de R$ 13.623,39.

Presbiteriana como o ministro, o currículo de Inez aponta que ela é doutora em ciência da religião e mestre em educação cristã. Palestrante em igrejas e eventos voltados a educadores, ela comandou eventos ligados a temas como o "Retorno aos princípios bíblicos da educação” e "Cosmovisão & educação”.

Seu site também informa que ela tem se dedicado à pesquisa nas áreas de educação, cultura e governo "a partir de uma perspectiva que integra a visão bíblica, histórica, filosófica e política”. Não há registro de experiência em políticas públicas.

Neste mês, por exemplo, Inez realizou uma palestra durante evento online da igreja Presbiteriana da Penha (SP). Ao citar a pandemia do coronavírus, que já matou 115 mil pessoas no Brasil, ela disse que vivemos uma crise ainda maior.

"Vivemos uma crise mundial de autoridade, uma crise mundial em relação a governo, e nós precisamos retornar aos princípios bíblicos de governo, precisamos entender o que é o Reino de Deus”, afirmou.

A Constituição de 1988 veta à União estabelecer ou subvencionar cultos religiosos ou igrejas. Também determina que à educação seja oferecida com base no pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas.

Críticas à BNCC

Em outra palestra, intitulada "Retorno aos princípios bíblicos da educação”, de setembro de 2018, a assessora do MEC crítica a menção de quilombolas em um livro didático e à Base Nacional Comum Curricular. O documento prevê os direitos de aprendizagem na educação básica.

Ainda há críticas dela ao que seria a "pedagogia atual” e um suposto movimento internacional de dominação cultural. O argumento, repetido por partidários do Movimento Escola sem Partido e por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), é de que haveria uma ação de dominação de esquerda na educação mundial e que isso colocaria em risco valores de família defendidos pela Igreja.

"Há um plano de emburrecimento, plano de escravização, um plano de domínio mundial, por meio da educação, por meio do sistemas educacionais internacionais. A Base Nacional Comum Curricular não é Base comum, é Base Internacional”.

Grupos religiosos empreenderam campanha durante a elaboração da Base Nacional para suprimir trechos que citam o compromisso para a "igualdade de gênero”. O governo Michel Temer (MDB) atendeu as demandas e excluiu menções.

Para ela, a Igreja tem se desinteressado pela educação e deixado que o "estado assumisse todas as etapas”. Ela afirma que, com o ensino laico, não guiado pela Igreja e família, educa-se a partir de "princípios nacionais” e que, segundo ela, tem relação com a liberação do aborto.

"E nós estamos sendo chamados por essa definição de pedagogia a mandar nossa crianças com 4 anos, obrigatoriamente”, diz.

Lista do CNE

Antes de ser nomeada para o cargo, Inez já havia sido cotada pelo ex-ministro Abraham Weintraub para assumir a Câmara de Educação Básica e da Câmara de Educação Superior, do Conselho Nacional de Educação (CNE).

O nome dela consta na lista de nomes enviada pelo ex-chefe da pasta, em uma relação que foi divulgada em junho deste ano, antes dele deixar o cargo para assumir o Banco Mundial. A nomeação de integrantes da ala religiosa gerou polêmica e repúdio de entidades representativas do setor educacional.

Dois Projetos de Decreto Legislativo (PDL) querem suspender as nomeações do Executivo para o Conselho (CNE) realizadas em julho.

Andapef

Inez Borges ainda coordena uma entidade, a Associação Nacional de Defesa e Apoio aos Pais na Educação dos Filhos (Andapef), que publicou materiais de ataque à Base.

O documento estimularia, segundo a organização, a "ideologia de gênero”, termo nunca usado por educadores. Entre suas ações, a entidade promove o curso "ComVocação”, que busca analisar documentos oficiais da educação brasileira. O conteúdo se debruça no projeto de Direitos Humanos e na Base Curricular.

Apoio de evangélicos

Após crises envolvendo os ex-ministros Ricardo Vélez Rodriguez e Abraham Weintraub, ambos de perfil ideológico, o presidente Bolsonaro escolheu colocar no MEC um evangélico. Uma forma de encerrar a confusão criada por Weintraub e afagar a base religiosa que apoia o governo.

Além de Inez, na última terça-feira (18), Milton Ribeiro já havia nomeado para o CNE o teólogo Alysson Massote Carvalho, ligado ao Instituto Presbiteriano. Questionado sobre quais critérios foram usados nas escolhas, o MEC não respondeu.



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